quinta-feira, 27 de outubro de 2011

REENCONTRO COM O PILANTRA AMADO




Uma história de Amor, Traição e Ódio



Tente imaginar: você é um cara feliz e bem casado. Sua mulher é jovem e talentosa, todos a desejam, embora ninguém faça propostas indecorosas. Tudo vai bem, é uma alegria só. Ela reclama, vez ou outra, uma mesada maior. Você não dá ouvidos e a vida segue numa boa. Um dia ela olha pra sua cara e diz: “tô indo embora, vou morar na França, vou conhecer o mundo e o mundo vai me conhecer”. E parte assim, sem mais nem menos. Vai pra França. Depois Espanha e Itália. Você entra em depressão, perde os sentidos, vai à lona, vira um sujeito de segunda classe. Mas lentamente coloca a cabeça pra fora do buraco e se acostuma com aquela nova vidinha mais ou menos, sem muita coisa acontecendo. E assim passam-se dez longos e penosos anos. Volta e meia, durante este período tenebroso e sem dinheiro (ainda por cima vendo seu vizinho muito bem de vida) você escuta falar da sua ex-mulher. Na Europa, todos são encantados com ela – prestam-lhe muitas homenagens, o que aumenta sua raiva. Você considera toda a família da sua ex-mulher como traidores, todos. Principalmente o irmão mais velho, que é o principal conselheiro dela. São anos e anos de ódio (i) mortal.

Mas eis que um belo dia essa mesma mulher, inacreditavelmente, lhe telefona e diz: “quero voltar, sempre te amei”. Você sabe que ela já não é aquela mulher de outrora. Está gordacha, bunduda, desinteressada da vida. Vive na balada, bebe, fuma e tem alguns hábitos noturnos preocupantes. Mas ela olha pra você, sorri com aqueles dentes inconfundíveis e você esquece de todos seus defeitos. E ela, claro, aproveita pra pedir alguma coisinha a mais pra voltar: “amor, sei que não é barato, mas você paga a minha mudança de volta?”. Você fica todo feliz, faz empréstimos pra pagar a mudança e aproveita pra dar uma melhorada na casa. Você pensa até em mudar de casa em breve, não quer mais aquela saudosa maloca. Você quer proporcionar o melhor dos melhores da vida. Afinal ela é uma diva internacional, mesmo que decadente. Ela merece regalias e um tratamento diferenciado. Ou merecia, você nem sabe mais, de tão embriagado pela inesquecível festa que está organizando. Pede dinheiro pros parceiros mais chegados, faz reuniões exaustivas pra checar se está tudo certo, prepara uma grande recepção, de cinema.

Então você vê no jornal a sua ex-futura-mulher casando, com pompa e circunstância, com um carioca famosão, sorridente e simpático, embora com a maior fama de picareta. É o fim: mais uma vez você vira alvo fácil para chacotas de todos os tipos. Você vai à lona de novo, dessa vez com uma dor de corno jamais vista. E a maior cara de bobalhão.

Mas a vida continua, amigo. Pena que você já está se acostumando com isso. Se ela ligar choramingando, você embarca de novo.

Ivan Lima






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